Nas pesquisas recentes quanto à eleição presidencial, há um cenário com duas candidaturas principais. De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desponta como líder das pesquisas. O atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), vem logo em seguida nas intenções de voto.
Muitos analistas, lideranças ou eleitores(as) que não optam por nenhum dos candidatos defende a necessidade de uma terceira via. Mas o que seria essa terceira via? O termo, muito usado atualmente no debate político, ainda gera bastante confusão.
Para evitá-las, este texto tem o objetivo de esclarecer o que se quer dizer por terceira via, atualmente.
Quantas “vias” temos no Brasil?
Para haver uma “terceira via” numa disputa política, por lógica, é preciso ter em mente que há outras duas. Voltaremos a esse ponto. Mas cabe antes salientar que o Brasil, com um sistema político pluriparditário (ou seja, com muitos partidos) tem sempre muitas “vias” na disputa.
Considerando apenas os pré-candidatos à presidência na próxima eleição, temos opções das mais diversas. À esquerda, temos Leo Péricles (UP) e Vera Lúcia (PSTU), que representam uma esquerda radical, oposta à agenda de Bolsonaro e também à esquerda de Lula e PT.
Cabe ressaltar também a candidatura de Ciro Gomes (PDT). O ex-governador do Ceará defende um projeto de retomada do nacional desenvolvimentismo. Assim, tem uma agenda que engloba aspectos tanto de agendas mais à esquerda quanto a mais liberais.
Por fim, existem ainda opções de candidaturas mesmo de campos conservadores quanto da extrema direita, como a candidatura do partido Novo.
Mesmo assim, volta e meia nos deparamos com evocações da terceira via, ainda que haja tantas “vias” como apresentamos acima.
Então, que seria essa terceira via?
A terceira via, no caso, seria uma opção na disputa pelo poder que represente a centro-direita tradicional no Brasil. Trata-se da defesa de uma rearticulação de setores que tiveram seu protagonismo, sobretudo, nos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Com um eixo tradicional orbitando em torno do PSDB, essa centro-direita tem uma agenda econômica neoliberal. Mesmo assim, historicamente manteve algum compromisso com determinadas pautas sociais. Essa agenda polarizou as eleições contra o PT entre 1994 e 2014, perdendo seu lugar no campo da direita com sua radicalização, que culminou na eleição de Bolsonaro.
Por quê ela não decola nas pesquisas?
Há algumas razões pelas quais essa terceira via, no caso, as direitas tradicionais, não ganham destaque nas pesquisas. São elas:
- Falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro: boa parte do discurso em defesa da terceira via parte desse pressuposto. Coloca-se, assim, Lula como uma extrema esquerda contra um Bolsonaro na extrema direita. Embora o segundo ponto seja real, alianças de Lula com Geraldo Alkmin, por exemplo, mostram que coloca-lo na extrema esquerda não se sustenta.
- Falta de projeto: se podemos falar com alguma clareza quais são as agendas políticas de Bolsonaro ou Lula, não podemos dizer o mesmo da dita “terceira via”. Boa parte dos partidos que a defendem votam majoritariamente com o governo Bolsonaro, contradizendo qualquer tentativa de se firmarem como oposição. Da mesma maneira, não disputam eleitorado com Lula ou na esquerda, que já se veem representados no ex-presidente.
- Falta de figuras de peso: com a ida de Alkmin para a chapa de Lula, a direita tradicional não tem figuras de envergadura nacional para terem uma candidatura competitiva. Mesmo o ex-governador de São Paulo obteve uma votação bastante modesta na eleição presidencial de 2018. Figuras como João Doria ou Simone Tebet nunca conseguiram grande base de apoios e eleitorado a nível nacional.